Capítulo s/n - parte 4

O AMOR


Enquanto escrevia esse livro, senti que percorria com harmonia o fluxo da vida. Uma cumplicidade se formava através das sincronicidades que enriqueciam o conteúdo do livro. Ficava atenta para perceber e decifrar o significado dos acontecimentos.

Quando essas sinconicidades me chegavam através de pessoas amigas ficava fácil de entender, elas diziam coisas que se encaixavam claramente, sem que eu precisasse dizer qualquer palavra, como se captassem no ar minhas dúvidas. Agradecia emocionada. Elas eram meu mestre naquele momento, não tinham noção de como me ajudaram, por mais que eu as agradecesse.

Sabia também que esse auxílio era fruto da Energia Inteligente e Perfeita, que as colocava em meu caminho, por isso mantinha um diálogo com essa Energia. Agradecia todas as vezes que essas respostas ocorriam. Quando tinha dúvidas, lançava meus questionamentos ao ar, inclinando a cabeça para a esquerda, direcionando meu olhar para o alto à direita, fazendo gestos com as mãos, que para um expectador dessas ações, pensaria que eu estava falando sozinha. As respostas sempre vinham de alguma forma.

Esse capítulo foi o mais difícil. Tive dificuldades para falar sobre o Amor em toda sua profundidade. Quando a primeira versão ficou pronta - tinha basicamente as sete primeiras páginas -, considerei o livro por terminado e mandei para dois amigos. Eles foram sinceros, e os agradeço por isso. Marcinha disse que faltava um pouco da minha alma ali naquele capítulo, que eu tinha que abrir o coração e me expor mais.

Essa mensagem era bem clara para qualquer um. Mas, eu não sabia ainda como fazer isso. Passou alguns dias e veio a bomba.

Analisando agora com calma eu posso imaginar a Energia Inteligente e Perfeita me dizendo: “Mandei a mensagem através da Marcinha, mas vejo que está com dificuldades em aprender que para falar sobre o Amor com Sabedoria precisa abrir o coração de verdade; as palavras têm que vir de dentro, com sentimento; e principalmente colocar esse Amor com mais intensidade, não só no livro, mas na sua vida. Não basta ter o Amor dentro de você, precisas permitir que esse Amor transborde, exale e envolva toda a atmosfera ao seu redor; integrando-te à Alma do Mundo; tornando-te Uno. Querida, vou te ajudar nesta tarefa, só que desta vez, vou enviar um mestre mais incisivo, que te desafie a usar esse amor. Para isso, seu mestre terá que ser um adversário, bom no que sabe fazer; ele será capaz até de atingir seu ponto mais fraco, sem dó, nem piedade e isso um amigo não seria capaz de fazer. Se você não usar a energia do Amor para vencê-lo, você mesma irá se destruir. Mas, não se esqueça que não está sozinha. Peça ajuda. Não tenha vergonha de reconhecer que não sabe Tudo. Você está aqui para aprender e seus esforços em alcançar a Sabedoria não serão em vão. Com o Amor, tudo fica mais fácil, mais leve...”

Então, veio aquela bomba! A prova do Amor puro e incondicional bateu literalmente na minha porta... Toc... Toc... Toc...

Quando alguém bate na minha porta é uma confusão, os cinco cachorrinhos correm e latem eufóricos para saber quem é, vão e voltam correndo e latindo para avisar que tem alguém na porta. Quando consigo, enfim, driblar todos eles e chegar até a porta, não consigo abrir imediatamente a porta, preciso de um tempo para acalmá-los, só então consigo sair para o corredor. Foi por isso que tirei a campanhia... Os porteiros do edifício já conhecem o esquema: ninguém sobe sem interfonar, e eu desço para atender; quando faço uma encomenda deixo o dinheiro com o porteiro, depois pego a encomenda, enfim, esse esquema evita que os latidos incomodem os vizinhos.

Finalmente pude ver o autor das batidas na porta. Era o síndico. Furou todo o meu esquema de bloqueio, e já estava impaciente, com um das mãos na cintura e a outra encostada na parede. Conhecia aquela expressão em seu rosto, embora o tenha visto assim poucas vezes. Foi quando, sem rodeios, me disse que a vizinha tinha registrado queixa na delegacia contra a minha pessoa e que... Ele nem terminou de falar... Lembrei-me da manhã do dia anterior. Um filme rebobinou e passou na minha mente...

...Como em todos os dias, religiosamente, desci com o Léo para passear, fazer suas necessidades, tomar um sol e coisa e tal... Quem tem cachorro sabe, faça sol, faça chuva, cansado ou não, você tem que levar... Mas, desde que a vida me presenteou estes seres tão especiais, há quatro anos, tenho repensado os valores das coisas... E este não é um sacrifício, ao contrário, quando pego a coleira a felicidade é tanta que contagia. O Léo é o mais animado. Quando o chamo pelo nome e falo a palavra “sair”, ele vem que nem louco, pulando os obstáculos e abanando seu longo e belo rabo, em sinal de felicidade. Desmancha qualquer sinal de cansaço.

Embora os quatro filhos do Mike tenham nascido no mesmo dia, cada um tem uma personalidade diferente. O Léo todas as vezes que vai passear, enquanto não sair do prédio, late reclamando para todos que encontrar pelo caminho. Depois não, quando vê a rua... Toda aquela liberdade oferecida a ele; tantos lugares para cheirar; todos os odores dos mais variados; aquela luz do sol que nenhuma lâmpada consegue imitar; os pombos batendo em revoada com sua aproximação, e ele tentando pegá-los, é claro! Se for dia do lixeiro passar, então... É uma festa... Aquele monte de saco preto empilhado parece um parque de diversões! Enquanto que eu fico pensando quantas coisas ali poderiam ser recicladas... Vai entender!

Eu diria que o Léo é uma cópia fiel da mãe. Não só na aparência, mas na personalidade também. Ela era a líder, cuidava do território, era ciumenta, mas muito carinhosa. Eu sei que todos os donos de cachorros vão dizer a mesma coisa, mas a Nina só faltava falar. Havia uma comunicação silenciosa com o olhar... Ela sabia tudo que se passava comigo, coisas que não tem como explicar...

Eu ganhei a Nina de uma jovem que passeava com ela, procurando alguém que pudesse ficar com ela. A razão não me permitia aceitar uma fêmea, já que eu tinha o Mike, e seria complicado evitar uma união entre os dois. Castração é uma palavra que me causa arrepios... Aliás, tudo que vai contra o que a Natureza estabeleceu como perfeito, é no mínimo uma violência.

Vocês já devem ter percebido que eu tomo minhas decisões com o coração. Todas as vezes que obedeci à razão o resultado foi desastroso e infeliz. Então, quando a Nina veio em minha direção e peguei-a no colo... Aquele doce olhar... As várias lambidas em meu rosto... Tanto amor saindo daquela coisinha pequena e indefesa... Como poderia deixá-la a própria sorte de encontrar um lar... Mais que isso... Um dono que retribuísse tanta afeição e fidelidade...

Foi assim que levei a Nina para casa, e ela retribuiu esse ato de compaixão... Tomou conta de mim, da minha vida, ensinou-me sentimentos que jamais pensei existir, e de fato não os encontrei em nenhum ser humano... Perdoem-me a franqueza, não quero ofender, nem menosprezar ninguém, mas os animais possuem um conteúdo riquíssimo... Eles são seres divinos... Possuem um amor puro e incondicional, e os sentidos são extremamente mais desenvolvidos... Por não se desligarem da Natureza, como o homem se desligou, estão ligados à Alma do Mundo... Por isso podem pressentir um perigo iminente, assim como também, podem nos revelar um universo mais sutil.


“É apenas com o coração que se pode ver direito;
o essencial é invisível aos olhos.”

Antoine de Saint Exupéry


“Quanto mais puro for um coração,
mais perto estará de Deus.”

Mahatma Gandhi