Capítulo s/n - parte 12




O Amor


Era um fim de tarde e eu levava o Mike para um passeio.
Todos os dias o Mike faz o mesmo caminho. Nessa tarde, ele pegou uma rua que raramente passamos. Um pouco mais a frente encontrei o Sílvio. Eu tinha deixado com ele um exemplar do livro, contendo a primeira versão desse capítulo.
Desabafei a história da vizinha e comentei que ainda estava com um mal estar. Ele ficou surpreso. Como alguém que escreve um livro desses pode estar passando por isso! Quem ler esse livro vai achar que você mora num paraíso...
Mas, essa era justamente a minha pergunta... Como eu poderia viver no meio de um caos sem permitir que esse caos atue sobre mim? Eu tentava fazer isso, mas tinha que desprender muito esforço, ás vezes não conseguia de imediato e acontecia de mergulhar em energias negativas, quase sucumbindo. Eu queria descobrir um meio de bloquear energias negativas com mais naturalidade, espontaneidade e instantaneamente...

Conversamos mais um pouco e ele comentou sobre o capítulo do Amor. Achou fraco. Assim como a Marcinha havia falado. Depois disso, ele me confidenciou que o Amor, como forma de energia, era seu assunto predileto, já havia escrito algumas coisas sobre isso. No dia seguinte ele me entregou seus manuscritos, tinha umas dez páginas sobre a energia Amor, segundo uma visão científica. Agradeci e li com calma.

Não tenho nenhuma dúvida de que o Silvio foi meu mestre naquele momento tão oportuno. Veio para selar definitivamente com Sabedoria a questão do Amor. Depois que li seus escritos, todas as sombras se dissiparam.

Foi fantástico! Conforme percorria o texto, podia sentir a energia me envolvendo com tamanha intensidade que refrescava minha alma, dissolvendo todos os nós, restabelecendo meu equilíbrio...

Foi uma luz, uma fonte de inspiração para completar o capítulo sobre o Amor. Muito embora o texto do Silvio fosse todo com bases científicas, me abriu uma percepção maior e mais consistente.

Não pude calcar esse capítulo de forma científica como ele o fez, pelo simples fato de, além de não possuir um conhecimento científico do assunto, minhas experiências são todas oriundas do inconsciente, dos sonhos e de observações atentas. O meu laboratório é o cotidiano, são as pessoas que me cercam; as situações e os conflitos oriundos desses relacionamentos; e sobre eles debruço meus questionamentos até chegar às reflexões... Basicamente falamos a mesma coisa em linguagens diferentes. Cada pessoa interpreta o mundo de forma particular e única.

Vale à pena penetrar na visão do outro, a fim de observar aquilo que deixamos passar despercebido, enriquecer nossos conhecimentos e abrir um “leque” de opções mais sublimes.

Sou grata ao Silvio por me proporcionar um aprendizado e me conceder a honra de colocar, na página cento e quarenta e um, o trecho retirado de seus manuscritos; e no final do livro, na bibliografia, seu e-mail estará disponível para quem quiser se aprofundar cientificamente sobre a energia do Amor.

Não posso deixar de agradecer também a Energia Inteligente e Perfeita que entrelaçando nossos caminhos, permite tantas oportunidades de crescimento.

Ah! Já tenho a resposta... De como conseguir um “bloqueador de energias alheias”. Na verdade não é um bloqueador, é mais que isso... É um gerador e transformador. Para funcionar tenho apenas que desejar e mentalmente visualizar a energia do Amor vindo do cosmos, entrar pelo meu chacra coronário e ir para o meu coração; dali se espalha e percorre todo o meu corpo internamente até transbordar... Em seguida, aumento esse campo energético a minha volta até englobar tudo e todos ao meu redor. Esse campo magnético transforma toda a energia ao meu redor em Amor. Quando encontro alguém que também esteja emitindo a energia do Amor, elas se juntam e se potencializam.





Será que só conseguimos aprender a lição de maneira tão sofrida?

Ao menos aprendi. Enquanto Ele estiver me ensinando é porque não desistiu de mim... Ele nunca desiste... De ninguém... Nunca... Ele está sempre pronto a ensinar... Nós é que não estamos prontos para entender Seus ensinamentos... Por isso sofremos tanto... Pelo menos até entendermos!

Recebemos do Universo, não o que queremos, mas aquilo que mais precisamos...

Eu sei que para muitos, ter toda essa diversidade na vida, pode parecer uma cruz pesada demais para carregar... Mas, para mim têm se revelado um terreno fértil... Hoje sei, que tudo que vivi, tudo que me foi ofertado... Até os acontecimentos mais terríveis... Foram ensinamentos com o fim de me fazerem chegar exatamente aqui...

“Não te iludas com o que os olhos vêem, a mente cria, as palavras dizem; o que deves fazer não é muito nem pouco: é tudo por amor que recebes do infinito.”
Trigueirinho


Sei também, que muitos vão pensar que esses pensamentos são utópicos. Mas, é que me parece tão óbvio que, se somos capazes de criar o caos, é porque também somos capazes de criar o paraíso! Será uma tarefa difícil, por todas as razões que expus, mas é possível! Pode levar muito tempo... Mas é possível...

“Quando se sonha sozinho é apenas um sonho.
Quando sonhamos juntos é o começo da realidade.”

Jardim dos Pensamentos


Vamos imaginar a situação ao inverso. Imaginem que vivemos num paraíso. Todos são muito amáveis e felizes. Mas, chega um “louco” e declara: “Ah, isso aqui está muito monótono, vamos criar uma guerra?” As pessoas ao ouvirem aquilo pensariam que ele é louco... Ninguém lhe daria ouvidos! Quem iria, em sã consciência, preferir a guerra ao invés da paz.

Mas, determinado a empreender seu projeto de tornar o paraíso um caos, ele inicia por sua própria conta. Ele tem um filho, um só para dificultar um pouco mais, e começa a nutrir naquele filho a semente do ódio. Desde pequeno vai despertando o ego do filho. Para dificultar um pouco mais, vamos supor que o filho ainda assim consegue resistir aos apelos do ego. Vendo que seus planos não surtem efeito, o louco começa a oprimir o filho.

O pequeno menino, agora já um rapaz, começa a se sentir diferente dos outros. Deseja encontrar uma namorada, mas as moças temem a loucura do pai dele, ninguém deseja o caos. O rapaz então fica muito triste e magoado. Era a oportunidade que o do pai esperava. O rapaz fica ouvindo o pai lhe dizer que o mundo é cruel mesmo, que é loucura ele tentar ser igual aos outros, e ensina o filho a ser independente e egoísta.

Por mais que o rapaz houvesse resistido, os ensinamentos do pai para despertar seu ego; a opressão que sofreu do pai; o sentimento de rejeição das moças; a tristeza e a mágoa; as crenças do pai de um mundo cruel; e os treinamentos para se tornar independente e egoísta acabam por transformá-lo, de um ser amável em um ser revoltado e cheio de ódio.

O pai dele morre feliz, em saber que alcançou uma vitória. O rapaz vai para um lugar distante, onde ninguém o conhece. Esconde o máximo que pode todos aqueles sentimentos ruins que tem dentro de si, a fim de encontrar uma esposa. Casa-se e tem dois filhos, só dois para dificultar um pouco mais. Ele teme que seus filhos possam sofrer o que ele sofreu e repete todas as atitudes do pai em seus dois filhos. Vai ainda mais além. Constrói um muro ao redor do terreno de sua casa e vende: o excedente do que produz da sua plantação; o leite da vaca; os ovos da galinha; e até a água ele vende para os viajantes sedentos. A história se agrava, agora são dois filhos e uma esposa oprimidos; e também... O início do capitalismo...

Ele sabe que não deve compartilhar suas idéias com os outros, então, age silenciosamente, na frente de estranhos ele é gentil e amável. Quando lhe perguntam por que cercou o terreno e vende as coisas que a natureza dá em abundância, ele responde que é o progresso. Os filhos crescem; se casam e têm filhos. Agora ele também tem os netos e bisnetos para persuadir...
Além disso, as doenças oriundas dos sentimentos negativos começam a aparecer, pois não havia doenças no paraíso. Os filhos e netos herdarão essas doenças, que se espalharão nas gerações futuras.

Bem... Para encurtar a história, mil anos depois já teríamos um milhão, quarenta e oito mil, quinhentos e setenta e quatro pessoas contaminadas pelo ódio, e isso porque eu supus que cada filho tivesse apenas dois filhos. Esse número pode aumentar. Se cada um deles tivesse tido três filhos, em mil anos, os números seriam: seis bilhões, novecentas e setenta e dois milhões, setecentas e cinqüenta e dois mil, e duzentas e quarenta e duas pessoas alimentando seus lobos. Eu incluí as esposas de cada um deles, porém, não contabilizei as pessoas de fora da família, como empregados e funcionários que foram oprimidos por eles, os que destes se transformaram em opressores e oprimiram outras... Também não somei a esses números os que se contaminaram de ódio por causa: das doenças que se alastraram; da fome; do domínio por territórios; do progresso do capitalismo e dos conflitos oriundos dessas gerações... Difícil precisar os números. O fato é que, em algum momento da História, o paraíso seria o caos.

Não sei por que, mas esse caos me parece tão familiar...

Foi difícil e levou muito tempo, mas não foi impossível. O louco que queria transformar o paraíso em caos conseguiu. Mas, também, porque os outros que o seguiram nada questionaram...

Seria até mais difícil transformar o paraíso em caos, do que o contrário. Pois na versão do paraíso, todas as pessoas estavam convencidas de que um caos não teria sentido, ele lutou sozinho.
No mundo de hoje (o caos) a maioria deseja a paz. Apenas uma minoria, que acumula sua riqueza à custa do capitalismo e que alimenta a ilusão da maioria, não deseja essa mudança. Essa minoria faz exatamente o que o rei Suddhodana, fez com seu filho Sidarta, nos mantêm distraídos, oferecendo bens, riquezas e títulos, como garantia de felicidade; e assim nos afastamos das questões da alma. Mas, essa minoria também vive em ilusão, talvez, mais ainda do que a maioria. Por isso, quando o budismo diz que o mundo é uma grande ilusão, está se referindo à essa percepção, e que quando despertarmos dessa ilusão alcançaremos a iluminação, ou seja, veremos tudo claramente! Então, o “louco” que quiser transformar o caos em paraíso não será mais visto como louco e terá o apoio da maioria.

Será difícil, mas não impossível. Levará muito tempo? Menos do que transformar um paraíso em caos, já que a maioria deseja o paraíso.

Eu sei que no caos teremos um agravante que não havia no paraíso, e esse fator não nos deixa com muito tempo disponível. Ainda teremos que salvar o planeta de nós mesmos!

Mas aí, meu amigo, na pior das hipóteses, nem eu com a minha utopia, nem a mais indecente covardia iremos levar a melhor!

Se não despertarmos nossa consciência será o fim da nossa espécie no planeta. É isso mesmo, só a nossa (e aquelas que nós mesmos extinguimos)! Porque o planeta se refaz... Vai passar um tempo... As árvores vão crescer... Alguns animais vão continuar nascendo, crescendo e se reproduzindo... O clima vai ficar bom... As calotas polares não vão mais derreter... As águas serão límpidas... Não haverá poluição... Porque não haverá nenhum homem sobre a Terra para fazer o caos... É... Também não deixa de ser uma forma de transformar o caos em paraíso... Mas, pensa bem... Essa opção não me parece um final feliz... E se o supremo amor é o desejo do que é bom e de ser feliz, está faltando alguma coisa nesse final...


“Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo,
qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.”
Ayrton Senna