Capítulo 5

MISTÉRIOS & MILAGRES



Minha história é só uma história... Não há nada de extraordinário nela. O extraordinário é observá-la à luz dessas reflexões...

Tenho uma única irmã, mais velha dois anos. Ao contrário de mim era extrovertida, liderava as brincadeiras com as crianças da vizinhança, organizava torneios com faixas, troféus e tudo mais. Não fosse por ela minha infância seria introspectiva. Eu admirava sua determinação e decisão, parecia não possuir qualquer dúvida a cerca das coisas. Eu mergulhava em profundas questões que muitas vezes não concluía.

Foi um duro golpe quando soube, através do médico, que ela jamais voltaria a ser a mesma pessoa depois da primeira crise de esquizofrenia que a arrebatou aos dezoito anos de idade.

De fato, a partir daí sua personalidade fragmentou-se. Aquelas qualidades, que eu tanto admirava, revia nos momentos de crise, mas estavam carregadas de revolta e confusão mental que a atormentavam. Quando a crise passava estava tão impregnada de remédios que parecia um robô. Meses depois da desintoxicação, quando era mantida uma dose mínima de remédios, ela ficava extremamente infantil e ingênua.

As crises eram freqüentes, com intervalos de um ano, quando então ficava internada em clínicas que mais pareciam o próprio inferno. Anos depois conseguimos a clínica que pertence a Universidade Federal do Rio de Janeiro. O tratamento era mais humanitário, com propostas mais avançadas, o que amenizou um pouco.


“O maior erro dos médicos é tentarem curar o corpo sem procurar curar a alma. Entretanto, corpo e alma são um e não podem ser tratados separadamente.”

Platão



“Deus, auxiliai-nos a não menosprezar nem combater o que não compreendemos”

William Penn



Meu pai exaltou em mim três virtudes, a partir das quais o ser humano deve formar seu caráter: a força, a coragem e a dignidade. Ele dizia que um homem pode perder todas as coisas que possui; todas as coisas materiais lhe podem ser tiradas, mas o que está em sua mente e seu coração nunca o serão.


Sou grata a meu pai por isso. Nenhum pai pode dar a seu filho tesouro maior que o conhecimento dessa verdade.


“Não rezeis por uma vida fácil. Rezai por serdes homens mais fortes. Não rezeis por tarefas iguais às vossas forças. Rezai por forças iguais às vossas tarefas. Então, o produto de vosso trabalho não será um milagre, mas vós sereis um milagre. E cada dia, ficareis deslumbrados com vós mesmos e com a riqueza de vida que vos veio pela graça de Deus.”

Philip Brooks


Chega um tempo em qualquer família, pelas razões que o ciclo da Natureza conforme suas leis encerram, em que é chegado o momento de partir do plano material para um plano de energia mais sutil.



“Pois bem, é hora de ir: eu para morrer, e vós para viver. Quem de nós irá para o melhor é obscuro a todos, menos a Deus.”

Sócrates


Houve o tempo, após algumas partidas, em que a minha família se resumia a minha mãe, minha irmã e eu. Embora a lógica de nossas mentes estreitas, pressionadas por uma avalanche de regras sociais e morais, indicassem que seria minha a tarefa de dar continuidade ao legado da família, o fluxo da Energia Inteligente e Perfeita provou mais uma vez que estamos absolutamente equivocados.


Eis que numa noite sonhei que minha irmã teria um filho. No sonho já nos conhecíamos de outras vidas passadas e uma grande amizade selava nossa união, ultrapassando tempos e distancias. Ele veio em sonho avisar que estava vindo e pedia meu apoio. Acordei repleta de sublime felicidade.


Pouco tempo depois minha irmã anunciou sua suspeita de gravidez, imediatamente confirmei e afirmei ser um menino. Ela teria todo meu apoio. Contrariava todas as probabilidades de nascer uma criança saudável, pelo fato dela estar tomando altas doses de remédios indicados para o quadro de esquizofrenia. Os médicos que acompanhavam o caso dela foram categóricos e unânimes em indicar o aborto no início da gestação como a solução mais racional.

Mas eu tinha o sonho (os sinais) e uma certeza dentro de mim... Nosso coração e nosso inconsciente possuem a sabedoria do Incognoscível, que vai muito além do racional do ser humano...


André veio ao mundo no romper da aurora de um verão forte e convidativo. O parto foi normal e ele gozava de boa saúde. Não fiquei surpresa, pisquei o olho balançando a cabeça para cima e para baixo e esboçando um sorriso para àqueles que ainda têm alguma dúvida de que uma Força Maior permeia nossa existência.


O nascimento de qualquer ser vivo, já encerra, por si só, um milagre da Criação, acrescido de alguns pormenores, apenas envolvem ainda mais de mistérios aquilo que o homem não se curva em aceitar... Existe um Plano Maior, Inteligente e Perfeito que o Homem não pode controlar, nem entender com a mente racional...



“Existem apenas duas maneiras de ver a vida; uma é pensar que não existem milagres e a outra é que tudo é um milagre.”

Albert Einstein



André entrou em nossas vidas para trazer leveza, bom humor e nos manter unidos. Parece-me que já veio com um pacote pronto de maturidade, senso de observação e compreensão da vida que eu levei quarenta anos para alcançar. Por vezes me causa espanto com sua maneira de encarar a vida, tão simples e tão óbvio. Aos dezesseis anos e com uma mente tão evoluída... Mantém um diálogo que raramente encontrei até nos meios mais intelectuais.


Quando atingiu certa compreensão, disse a meu sobrinho: Nunca me senti suficientemente preparada para educar um ser, ainda estou educando a mim mesma. Estou orientando da forma que julgo ser a mais correta. Cuido para que meu egoísmo não intervenha em momento algum; respeito ao máximo sua individualidade e criatividade para que seja um terreno fértil; não me deixo influenciar pelo que os outros pensam.


Não sei se estou fazendo de forma correta, mas quando estiver diante de Deus poderei dar-Lhe contas de que a responsabilidade foi totalmente minha.


Chamamos de milagre aquilo que não conseguimos explicar pelas vias da Ciência. Acontece que a Ciência ainda não dispõe de todos os meios para explicar determinados fatos.


A origem do Universo, bem como seu comportamento ainda é discutido. Existem várias teorias, mas nenhuma em definitivo. A teoria mais aceita no meio científico, embora nem todos os cientistas concordem, é a do “Big Bang”, onde o universo teria sua origem há aproximadamente 13,7 bilhões de anos. Estando num estado inicial de temperatura e densidade altamente elevado, num dado momento teria ocorrido a explosão que deu início à formação do universo. Mas essa teoria não explica como tudo era antes da explosão, nem os fatores que ocasionaram a explosão e nem porque ocorreria naquele momento e não em outro.


De tempos em tempos mentes brilhantes como Albert Einstein colocam luz sobre obscuras questões.


É praticamente recente a descoberta de que a matéria é composta de energia e partículas, que os átomos podem ser divididos em partículas ainda menores que os prótons, nêutrons e elétrons. E que os elétrons não se comportam seguindo continuamente uma órbita, como havia se acreditados até pouco tempo. Entre o núcleo e a extremidade do átomo existe uma poeira, onde os elétrons ora estão, ora não estão. Ora se comportam como partícula, ora se comportam como ondas.





Essa visão recente causou uma revolução no meio científico, demorou a ser aceita e ainda não modificou a idéia de que a matéria não é compacta, sua aparência rígida se dá em função da velocidade em que os elétrons se movimentam em torno do núcleo, causando a ilusão de uma superfície lisa, como um ventilador rodando rápido o bastante para causar a ilusão de ser um disco contínuo. Na realidade a matéria é formada de energia.


“O estado atual da física teórica implica que o espaço vazio tem toda a energia e que a matéria é um leve aumento dessa energia. A matéria é como uma pequena ondulação nesse imenso oceano de energia, uma ondulação manifesta e com uma relativa estabilidade. Portanto, minha sugestão é a de que isso nos leva a uma realidade muito além do que chamamos de matéria. A própria matéria é apenas uma ondulação nesse pano de fundo.”

David Bohm

A ciência necessita representar através de símbolos, equações e comprovar fisicamente e repetidamente os fenômenos para serem aceitos. Por isso esse abismo entre a Ciência e a experiência que vem do Inconsciente. Esta última se dá de forma não racionalizada, apenas por experiência abstrata, pessoais, únicas, intransferíveis e impossíveis de serem repetidas até mesmo pela pessoa que a experimentou.


É como desejar apreender os pensamentos, as idéias e sentimentos numa forma concreta, física e visível, quando deles conseguimos apenas expressá-los e descrevê-los, ainda que limitados pelo sentido das palavras, que por vezes ficam aquém da experiência em si.


O fato de não sabermos ainda explicar certos fatos não os excluem, nem os faz deixarem de existir, apenas não o veremos em sua importância por estarmos de mentes e olhos fechados.


“A percepção do desconhecido é a mais fascinante das experiências. O homem que não tem os olhos abertos para o misterioso passará pela vida sem ver nada.”

Albert Einstein

Os sonhos e os “insights” são formas de acesso ao inconsciente. Quando sonhamos mergulhamos em outra dimensão, isento de regras morais, sociais, tempo e espaço. Por essa razão podemos acessar passado, presente, futuro ou situações que tivemos dificuldades durante a vigília. Quando acordamos trazemos essas impressões, mais ou menos definidas, de acordo com a censura do nosso consciente.


Não são raros casos de cientistas que obtiveram, através do sonho, soluções para suas pesquisas. Alguns sonhos são vagos registros, isso ocorre porque assim que acordamos nosso consciente trata logo de nos “encaixar” nas preocupações cotidianas. Por fim, muitas vezes nem nos lembramos dos sonhos.


Quanto mais relaxados formos dormir e acordar, mais facilmente nos lembraremos desses acessos do inconsciente a esse mundo desconhecido e fascinante.


Mas a verdade é que estamos sempre preocupados demais com compromissos, contas para pagar, o que vamos comer, o que vamos vestir, sempre com pressa e com a mente cheia de problemas, tentando controlar tudo e todos. Todas as preocupações inerentes ao corpo, ao mundo físico e externo. Nosso mundo interior fica sempre esquecido, nos afastando cada vez mais de nós mesmos. Por isso estamos tão perdidos... Estamos olhando na direção errada... Estamos olhando e focando sempre para fora, procurando fora de nós mesmos respostas que encontraríamos apenas dentro de nós.


Como poderemos encontrar a saída do labirinto que criamos, se estamos mergulhados na ignorância, no medo e na angústia. Cercados pelas solicitações dos sentidos externos, criando uma mixórdia de sensações, que somos tentados a atender imediatamente e instantaneamente, iludidos que dessa forma eliminaremos os sofrimentos.

“A natureza fez o homem feliz e bom, mas a sociedade deprava-o e torna-o miserável.”

Jean Jasques Rousseau